Brasil tem 43% das exportações de frango bloqueadas por gripe aviária

O périplo do Brasil na reabertura de mercados após a gripe aviária

O Brasil está livre da gripe aviária, mas ainda é impossível prever quando serão derrubadas as barreiras impostas à carne de frango brasileira por dezenas de importadores.

Depois de o País ter se autodeclarado livre do vírus H5N1, ao completar mais de um mês sem identificar o vírus em granja comercial, a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) referendou a informação em um comunicado na sexta-feira. Mas, até agora, nenhum importador se manifestou em relação ao novo status.

Em tese, os signatários da OMSA deveriam restaurar o comércio automaticamente após o reconhecimento do órgão internacional de que o Brasil superou o seu primeiro episódio de gripe aviária em granja comercial, identificado no dia 15 de maio, no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul. Mas, na prática, o status de livre de gripe aviária apenas deixa o País mais forte nas negociações internacionais.

“Na minha visão, será uma negociação mais branda do que seria há cinco anos, porque hoje todos os países convivem com a gripe aviária”, afirmou Ricardo Santin, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), ao The AgriBiz. “Gostaria de ter uma previsão de quando isso vai acontecer, mas infelizmente é impossível.”

Atualmente, 19 países e a União Europeia mantêm a suspensão total das importações de carne de frango do Brasil. África do Sul e México limitaram a restrição ao Rio Grande do Sul, compondo um grupo de 21 nações com suspensões ao estado. Já os Emirados Árabes, Japão, Catar e Jordânia suspenderam apenas as compras de Montenegro.

Por meio de seus adidos agrícolas e embaixadas, o Brasil já informou os países importadores sobre o novo status sanitário e começou a consultá-los sobre a necessidade de informações adicionais para retomar as importações — tentando, assim, reduzir os impactos ao comércio.

A dificuldade na reabertura pode ter diferentes motivos. “Em alguns casos, o conhecimento técnico e científico pode ter ocorrido sob outro ambiente e há dificuldade de evoluir”, diz Santin, que não descarta o protecionismo. Em outros, é possível que haja um pouco de proteção a indústrias locais, acrescenta.

Na avaliação de Santin, que também é presidente do Conselho Mundial de Avicultura (IPC, na sigla em inglês), é preciso repensar a eficácia das barreiras impostas ao comércio como medida de combate à gripe aviária, já que o vírus está espalhado por todos os continentes e o controle sobre as cargas exportadas é segura.

“Os Estados Unidos exportaram 3,3 milhões de toneladas no ano passado e sempre tiveram influenza. Isso foi possível porque foi adotada a regionalização por município”, disse Santin. “O Brasil quer entrar nisso também.”

O impacto para a indústria

As exportações brasileiras de carne de frango somaram 336 mil toneladas em maio, uma queda de 22% em relação ao mesmo período do ano passado e de 17% ante abril. Os exportadores redirecionaram cargas, mas, mesmo assim, acabou sobrando frango que tinha o mercado internacional como destino, resultando numa queda de 2% no preço médio dos embarques.

Essa tendência se intensificou em junho. Até a segunda semana do mês, a média diária dos embarques sinaliza uma queda da ordem de 25% na comparação anual, enquanto o preço médio em dólares recua 3%, segundo dados preliminares do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Mesmo que os bloqueios sejam gradualmente aliviados, junho ainda será um mês altamente comprometido pelos reflexos da gripe aviária, encerrando um trimestre difícil para os exportadores de carne de frango.

Com o Brasil oficialmente livre de gripe aviária, os exportadores também vão começar a correr atrás de outros prejuízos causados pela interrupção do comércio internacional, como o aumento nos custos com demurrage, logística, armazenagem e renegociação de contratos. A partir de agora, tudo isso deve começar a ser negociado com os importadores, segundo Santin.

Queda nas margens

Com o aumento na oferta de frango no mercado interno, os preços da carne caíram no País, pressionando as margens das indústrias. Entre 15 de maio, quando foi detectado o caso de influenza em Montenegro, até 16 de junho, o preço do frango caiu 16%, segundo dados do Cepea.

Resultado: o spread do frango abatido — um indicativo das margens das indústrias no mercado interno — caiu de 44% em maio deste ano para 36% em junho, de acordo com cálculos da Consultoria Agro do Itaú BBA.

Para os analistas da consultoria, novas quedas de preço podem ocorrer nas próximas semanas, já que a retomada das exportações deve ser gradativa. “Junho deverá sofrer forte impacto nos embarques”, escreveram em relatório.

A oferta, por sua vez, ainda não sofreu impactos significativos. Santin lembra que o único episódio de influenza detectado até aqui, em um matrizeiro de Montenegro, tem efeitos pontuais sobre a oferta, que segue praticamente estável.

Em maio, a produção de pintinhos de um dia teve uma leve queda, após registrar um recorde em abril. Mas permaneceu em patamar robusto, acima de 620 milhões de cabeças, uma alta de 2% na comparação anual, segundo relatório da XP Investimentos.

“Não precisamos diminuir a produção, demitir ninguém, e a queda nas nossas exportações não representa nem 5% da produção nacional”, afirmou Santin. Para ele, ao conter o vírus (pelo menos até aqui), o Brasil conseguiu demonstrar a robustez do seu sistema sanitário. “Saímos dessa crise maior do que entramos.”

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