Grão Direto

A façanha da Grão Direto para atrair a Kaszek, uma neófita no agro

Frederico Marques, Alexandre Borges e Pedro Paiva, amigos de infância e fundadores da Grão Direto | Crédito: Divulgação

Do Nubank ao Quinto Andar. Da Creditas ao Gympass. A fábrica de unicórnios da Kaszek, firma de venture capital criada por dois ex-Mercado Livre, já investiu em mais de 120 startups na América Latina, mas uma ausência chamava atenção no portfólio. A agricultura brasileira não fazia parte desse ecossistema.

Essa história começou a mudar há seis meses, quando o mineiro Alexandre Borges abriu as conversas com a Kaszek para levantar a maior rodada de investimentos já realizada pela Grão Direto, agtech que vem digitalizando o comércio de grãos, um dos maiores mercados globais.

A rodada se tornou pública na segunda-feira, marcando uma série de façanhas. A Kaszek não só topou fazer o primeiro investimento em uma startup ligada ao agronegócio como liderou o investimento de R$ 90 milhões na Grão Direto, ganhando direito a um assunto no conselho de administração da agtech mineira.

“Foi o primeiro movimento deles em agricultura. Acho que isso diz muito sobre o que estamos fazendo na Grão Direto”, disse Borges, cofundador e CEO da Grão Direto, em entrevista ao The AgriBiz, que não escondia o entusiasmo com a oportunidade simbolizada na entrada dos novos investidores.

O estado de espírito se explica pela relevância do investimento. A chegada da Kaszek pode ter contornos para além da Grão Direto, mostrando aos empreendedores de tecnologia do agronegócio que a porteira está aberta.

É também a validação da startup mineira em um momento crítico, marcado pela escassez de recursos na indústria de venture capital — um reflexo dos juros globais mais altos — e por problemas de liquidez de agricultores no Brasil que provocaram uma aversão a risco generalizada.

A trajetória da Grão Direto

Fundada em 2018, a Grão Direto vem conseguindo mostrar aos investidores (e aos clientes) que é possível digitalizar o comércio de grãos, reduzindo as burocracias e a necessidade de telefonemas para comprar e vender commodities agrícolas.

“É impensável negociar câmbio por telefone. No agro, deveria ser a mesma coisa porque há centenas de milhares de produtores espalhados, com os preços mudando a toda hora. Mas isso ainda era feito de um jeito analógico”, disse Borges.

Aos poucos, a Grão Direto vem mudando essa história. No ano passado, o marketplace da startup movimentou 8 milhões de toneladas de grãos — principalmente soja, milho e sorgo. Ainda é pouco para o tamanho da safra brasileira (cerca de 325 milhões de toneladas), mas uma evolução impressionante em poucos anos. Em 2021, por exemplo, a startup transacionou 1 milhão de toneladas.

A mudança de patamar é explicada pela estratégia de captação da Grão Direto, montando um captable com firmas de venture capital e investidores estratégicos, o que possibilitou trazer nomes como Barn, Lanx Capital e Canary — gestores de venture capital — e corporações como Bayer, Basf, Amaggi, Cargill, LDC e ADM.

A chegada das maiores tradings de grãos, em 2022, foi um divisor de águas para a Grão Direto, atraindo os compradores de commodities para atuarem na plataforma — sem esse elo, o negócio jamais funcionaria.

Ao mesmo tempo, a beleza da plataforma está na neutralidade do serviço. Nenhum acionista tem direitos especiais na aquisição de grãos. A Grão Direto é marketplace agnóstico, dando liberdade ao produtor para comercializar os produtos dentro de sua plataforma.

Com esse modelo de negócio, a startup mineira vem conseguindo construir um efeito de rede com seu marketplace, o que vai facilitar a criação de novos produtos e serviços oferecidos pela startup.

“A Grão Direto vai ter um volume de transações bastante grande. Quando isso acontecer, ela passa a ser insubstituível,” disse Flavio Zaclis, sócio-fundador da Barn e investidor da startup mineira desde a segunda rodada, em 2020.

Depois do marketplace de grão, a Grão Direto já entende ter a musculatura para aproveitar o ecossistema que está criando para explorar o mercado de crédito a partir de sua própria fintech.

No ano passado, a startup começou a testar um cartão de crédito — com bandeira Mastercard — para um grupo pequeno de produtores rurais. Com esse cartão, o agricultor usa um contrato de grãos fechado com uma trading por meio da plataforma Grão Direto como limite. A fatura só é paga na entrega dos grãos.

“O cartão estava com um grupo bastante reduzido. Agora, vamos ampliar bastante”, disse Borges. A antecipação de recebíveis do produtor, sempre lastreado em contratos de entregas de grãos comercializados por meio da plataforma, também será mais explorada.

Nos testes, a Grão Direto antecipou recebíveis e testou o cartão de crédito com capital próprio. Com os produtores validados, a startup vai poder explorar novas avenidas de funding, incluindo a atração de fundos parceiros — constituindo um FIDC, por exemplo.

Para isso, Borges vai contar com a experiência da Kaszek em fintechs (o Nubank é o maior exemplo) e com o Bradesco. Maior financiador privado do agronegócio, o banco da Cidade de Deus também investiu nesta última rodada da Grão Direto.

“A combinação da Kaszek com o Bradesco, um investidor financeiro, vai ajudar nessa nova etapa da Grão Direto no crédito. Para essa nova rodada, não podia ter combinação melhor”, resumiu Zaclis.

***

Se não bastassem Kaszek e Bradesco, a mais nova rodada da Grão Direto trouxe outros dois novos investidores emblemáticos: a SLC, maior produtora de grãos do Brasil, e o corporate venture capital da CME, dona da Bolsa de Chicago — referência global no mercado futuro de grãos.

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