Em um cenário de surpresas e reviravoltas, a Argentina emergiu como uma das grandes estrelas do mercado financeiro global em 2024, superando até mesmo o Brasil, tradicionalmente visto como o porto seguro dos investimentos na América Latina. O índice S&P Merval, principal referência da bolsa de valores argentina, registrou uma valorização impressionante de 114,91% em dólares, liderando os ganhos globais e deixando para trás mercados desenvolvidos como os Estados Unidos e a China. Enquanto isso, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, amargou uma queda de 29,92% em dólares, ocupando a última posição entre os 21 índices analisados pela consultoria Elos Ayta.
A façanha argentina é ainda mais notável considerando o contexto de instabilidade política e econômica que o país enfrenta. Sob o comando do controverso presidente Javier Milei, a Argentina implementou medidas radicais, incluindo uma maxidesvalorização do peso em seu primeiro mês de governo — uma queda de 114% na cotação oficial da moeda. No entanto, a adoção do mecanismo conhecido como Crawling peg, que ajusta a cotação do dólar em pequenos incrementos programados (em torno de 2% ao mês), ajudou a estabilizar a moeda e a criar um ambiente mais previsível para os investidores.
O resultado foi uma valorização expressiva do mercado de ações argentino, que superou até mesmo índices de economias sólidas como o Nasdaq (+28,64%) e o S&P 500 (+23,31%) nos Estados Unidos, além do FTSE China 50 (+23,29%). Enquanto a Argentina colhia os louros dessa performance, o Brasil enfrentou um ano desafiador, marcado pela alta do dólar e pela falta de medidas estruturais eficazes para impulsionar a economia.
A moeda americana valorizou-se 27,91% frente ao real em 2024, uma das maiores altas dos últimos anos, o que pressionou ainda mais o desempenho do Ibovespa. Para os investidores estrangeiros, a conversão de lucros para o dólar tornou-se menos favorável, reduzindo o apetite por ativos brasileiros. Esse cenário contribuiu para que o Ibovespa se tornasse o pior entre os principais índices globais, afundando ao lado de outros mercados latino-americanos, como México e Chile.
As medidas econômicas de Milei, embora polêmicas, acabaram fortalecendo a bolsa local, enquanto no Brasil a valorização do dólar e a incerteza fiscal minaram a confiança dos investidores. Para o mercado global, 2024 foi o ano em que a Argentina venceu o Brasil, não apenas nos campos de futebol, mas também no mercado financeiro.
Enquanto a Argentina celebra sua vitória, o Brasil enfrenta o desafio de recuperar a confiança dos investidores e retomar o crescimento econômico. A competição entre os dois países, que já é acirrada nos gramados, agora se estende também ao campo das finanças, em um jogo que promete ser ainda mais disputado nos próximos anos.
Fonte: Veja
