Seis anos após a primeira tentativa, Marfrig e BRF finalmente vão se fundir, consolidando uma transação que era aguardada pelo mercado desde que a companhia de Marcos Molina assumiu o controle da dona da Sadia, há três anos.
A transação se dará por meio da incorporação da BRF pela Marfrig. Os acionistas da dona da Sadia farão uma troca de ações, recebendo 0,8521 ação da Marfrig (MFRG3) para cada papel da BRF (BRFS3).
Na transação, os controladores da Marfrig (Molina e a esposa, Márcia dos Santos) terão a participação diluída dos atuais 72% para 41%. Isso ocorre porque a capitalização da BRF é muito superior à de sua controladora (R$ 33 bilhões contra R$ 17,3 bilhões).
Para os acionistas da BRF, a diluição será bem menor. A Salic, por exemplo, ficará com 10,6% da companhia combinada, uma redução de 3,9% em relação à posição de 11,03% detida pela gestora vinculada ao PIF — o fundo soberano da Arábia Saudita.
O desenho da transação inclui um incentivo bilionário para obter a aprovação dos acionistas da BRF. Como parte do negócio, a dona da Sadia vai distribuir R$ 3,5 bilhões em dividendos — o equivalente a R$ 2,20 por ação. A Marfrig também vai remunerar sócio. Serão R$ 2,5 bilhões em dividendos — neste caso, mais de R$ 1,7 bilhão irão para os controladores e o restante para os minoritários.
Pelo cronograma das companhias, duas assembleias serão convocadas para deliberar sobre a fusão. Se tudo for aprovado, a expectativa é que as duas companhias se tornem uma só até o fim de julho.
Pelo teor da oferta, a tendência é de uma recepção positiva para os acionistas minoritários da BRF. “É uma operação friendly, especialmente com os dividendos”, disse uma fonte.
Do outro lado, ainda não está claro como os minoritários da Marfrig vão reagir, tendo em vista que a diluição deles será bem maior. Neste caso, no entanto, há um belo atenuante: o controlador está no mesmo barco — sofrendo a maior diluição absoluta, portanto.
Vem aí a MBRF Global Foods
Ao unir as duas companhias, que serão batizadas de MBRF Global Foods, Molina cria uma plataforma multiproteína e regiões, com operações no Brasil, Estados Unidos, Oriente Médio e Ásia.
Combinadas, as duas companhias terão 38% do portfólio de alimentos processados, com mais de 40% do faturamento na América do Norte graças à National Beef — quarta maior indústria de carne bovina nos EUA
Num primeiro momento, o foco será extrair as sinergias do negócio combinado, mas a ambição de longo prazo é listar a nova Marfrig em uma bolsa nos Estados Unidos, seguindo o caminho que está sendo aberto pela JBS.
Antes disso acontecer, no entanto, a empresa combinada precisa capturar as sinergias. Estimativas apontam que a nova companhia poderia economizar R$ 350 milhões anuais em despesas por ano, unindo o backoffice e a estrutura comercial. Em custos e receita, as sinergias se aproximam de R$ 490 milhões. Juntos, os negócios poderiam incrementar o Ebitda em R$ 800 milhões, apenas capturando as sinergias mapeadas.
Nos últimos anos, BRF e Marfrig já vinham buscando sinergias, realizando diversos projetos em conjunto. Em 2025, por exemplo, as marcas Sadia e Perdigão passaram a compor o portfólio de carne bovina da Marfrig.
“É um caminho natural para a empresa ser mais simples, ficar multiproteína e aproveitar todas as sinergias. Chegou num momento em que precisa simplificar a estrutura para capturar as sinergias. Quando mais tempo demorar, mais as duas empresas perdem em sinergias”, disse Molina, em entrevista a jornalistas agora à noite.