Fazia tempo que um filme nacional não provocava tanto estardalhaço nem rendia notícias tão boas. Dirigido por Walter Salles, Ainda Estou Aqui ganhou no mês passado um Globo de Ouro pela atuação de Fernanda Torres. No dia 2 de março, o longa-metragem poderá levar até três estatuetas do Oscar — inclusive na categoria mais importante da competição, a de melhor filme.
Ainda Estou Aqui foi o sexto filme mais popular dos cinemas brasileiros em todo o ano passado, apesar de ter sido lançado apenas em novembro, visto por 3 milhões de pessoas. Neste ano, a obra já ocupa a quarta posição, com 1,8 milhão de espectadores.
Especialistas no mercado audiovisual ouvidos pela Agência Senado acreditam que o sucesso do filme nos cinemas do país e nas premiações internacionais impulsionará a produção cinematográfica nacional como um todo.
O professor da Universidade Federal de São Paulo (UFSCar) Arthur Autran, autor do livro Pensamento Industrial Cinematográfico Brasileiro (Hucitec Editora), afirma:
— Uma parte da nossa elite intelectual e da nossa classe média padece de uma insegurança cultural, derivada do complexo de vira-lata, e só se sente segura do valor do Brasil quando o reconhecimento vem de fora, quando há uma espécie de carimbo internacional. Isso acontece com a música, com a literatura, com a pintura e também com o cinema. Em termos simbólicos, portanto, as indicações e premiações de Ainda Estou Aqui são muito importantes para o cinema brasileiro.
As estatísticas mostram que a indústria cinematográfica brasileira sente mesmo falta de um empurrão. Em 2023, as obras nacionais responderam por quase 40% dos lançamentos nos cinemas do Brasil. A porcentagem não foi ruim. Ruim foi o alcance das produções.
Os filmes brasileiros só conseguiram responder por 7,5% das sessões e 3,5% do público. A situação foi ainda pior em termos financeiros. A participação deles na renda total das bilheterias ficou em irrisórios 3%.
Ainda em 2023, só três filmes nacionais apareceram na lista dos 50 mais vistos: Nosso Sonho, Minha Irmã e Eu e Os Aventureiros, que ficaram respectivamente no 43º, no 46º e no 49º lugar.
Em suma, as produções brasileiras ainda estão bem longe de representar alguma ameaça à hegemonia de Hollywood nos cinemas do país.