Falta de capital político feminino dentro de partidos explica troca de ministras por homens

Falta de capital político feminino dentro de partidos explica troca de ministras por homens


ANGELA BOLDRINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A demissão da ministra da Saúde, Nísia Trindade, na terça-feira (25), e a confirmação de que ela será substituída por Alexandre Padilha (PT), fazem subir para três o número de mulheres trocadas por homens no primeiro escalão do governo Lula.

Antes, Ana Moser já havia sido substituída por André Fufuca (PP-MA) no Esporte, e Daniela Carneiro (União Brasil-RJ) dado lugar a Celso Sabino (União Brasil-PA) no Turismo.

Já um homem deixar o cargo para uma mulher ocorreu apenas uma vez, quando Silvio Almeida foi demitido da pasta dos Direitos Humanos sob acusações de assédio sexual contra a também ministra Anielle Franco (Igualdade Racial). No lugar dele, Lula nomeou a deputada estadual Macaé Evaristo (PT-MG).

Com isso, a Esplanada fica ainda menos paritária, ao menos enquanto o substituto (ou substituta) de Padilha nas Relações Institucionais não é definido. São 9 ministras em 38 pastas.

As repetidas trocas no primeiro escalão do governo estão associadas a um fator estrutural: a dificuldade que mulheres enfrentam para construir capital político e partidário no Brasil.

A menor presença delas nos altos comandos partidários e nas cúpulas do Legislativo criam um vício de origem que diminui as chances de uma Esplanada paritária. Ou seja, há menos mulheres posicionadas para chefiar pastas quando o governo precisa fazer uma dança das cadeiras para angariar apoio das legendas ou acomodar um perfil negociador.

Isso significa que é mais fácil para o governo trocá-las, e menos provável que haja outra mulher na fila para substituí-las.

É sabido que há maiores dificuldades para as mulheres entrarem e permanecerem na política e que isso se reflete, por exemplo, no número de eleitas. Em 2022, as deputadas eleitas ocuparam 18% das cadeiras da Câmara, quando as mulheres formam 52% da população brasileira.

Chegar a espaços de poder, no entanto, é só um dos passos de construção de capital político.

Dentro das estruturas partidárias, as mulheres são minoria como presidentes de siglas, líderes de bancada e até lideranças simbólicas, que não têm necessariamente cargo dentro da legenda, mas carregam um peso institucional e político.

Há ainda outro agravante: a presença delas no primeiro escalão do governo tende a ser mais como técnicas do que indicações políticas para uma vaga partidária, justamente porque os ministérios políticos tendem a ser preenchidos por homens.

Isso, em si, não significa necessariamente uma maior chance de queda -José Gomes Temporão, o mais longevo ministro da Saúde entre todas as gestões petistas, era considerado técnico.

Mas, quando surge a necessidade de satisfazer um apetite partidário, ministros sem força política de sustentação tendem a ser rifados mais facilmente, já que retirar a pasta de um partido e entregar a outro tem custo político alto para o governo.

No caso de Ana Moser, por exemplo, o governo demitiu a ministra para acomodar Fufuca, aliado do então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Apesar de mais raras, há ministras de perfil político, como foi Daniela Carneiro. No caso dela, a perda de apoio partidário foi chave para a saída do cargo. Conhecida na urna como Daniela do Waguinho, em referência a seu marido, então prefeito de Belford Roxo, foi a mulher mais votada do Rio de Janeiro em 2022.

Ela foi indicada por Lula por causa do esforço de seu grupo político na eleição e também como um dos nomes do União Brasil na Esplanada. Quando caiu, em 2023, havia perdido o respaldo para representar o partido na Esplanada e chegou a pedir desfiliação. Terminou substituída por outro deputado da bancada.

A importância do capital político partidário fica evidente na disputa pela vaga aberta na Secretaria Relações Institucionais, antes chefiada por Padilha. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, está no páreo para chefiar a pasta, responsável pela articulação política do Planalto e por isso vista como estratégica. Ela já foi cotada também para assumir a Secretaria-Geral de Lula.

Outra dirigente partidária no primeiro escalão do governo é Luciana Santos, presidente nacional do PC do B. Não é coincidência, portanto, que tenha cabido a ela ocupar a pasta da Ciência e Tecnologia como indicação da sigla, que apoiou Lula durante a campanha de 2022.

A questão é que Gleisis e Lucianas são exceções na política brasileira, onde homens dominam as estruturas do poder -e agem para se perpetuar nelas.

IGP-M registra inflação de 8,44% em 12 meses

Taxa de desemprego sobe para 6,5% no trimestre encerrado em janeiro

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *