Fazenda em Correntina, na Bahia

Financiamento agrícola busca novas rotas com apoio da tecnologia

O lançamento do Plano Safra 2025/26 delineia o cenário de crédito para o agronegócio brasileiro nos próximos meses. O volume total anunciado alcança R$ 605 bilhões.

No entanto, o volume de recursos é insuficiente e o ambiente de crédito segue desafiador, que exige diversificação das fontes de financiamento a exemplo de instrumentos como os Fiagros que trazem recursos do mercado de capitais, além de uma adoção mais estratégica de tecnologias e dados.

Custo do crédito e busca por novas fontes

Uma das principais questões para a safra que se inicia é o aumento das taxas de juros, com elevações de até 2 pontos percentuais na maioria das linhas de custeio e investimento. Produtores empresariais enfrentarão taxas de juros de 14% para custeio, enquanto médios produtores terão 10% em linha como as do Pronamp.

Essa elevação impacta diretamente o custo de produção e o planejamento financeiro do produtor, que opera com margens apertadas em diversas cadeias produtivas relevantes, a exemplo da soja.

Ainda que o crédito equalizado continue sendo a opção mais acessível, sua oferta permanece insuficiente, cobrindo apenas uma fração da demanda do setor. Paralelamente, a exigência de garantias reais aumentou, chegando a representar até 200% do valor do financiamento, o que restringe a capacidade de endividamento. O barter, modalidade tradicional de troca, também enfrenta um período de menor confiança e maior risco na cadeia agroindustrial, limitando sua eficácia como complemento ao custeio.

Neste cenário, a diversificação das fontes de financiamento torna-se imperativa. Instrumentos do mercado de capitais, como os FIAGROS (Fundos de Investimento nas Cadeias Agroindustriais) e as CPRs (Cédulas de Produto Rural), ganham mais protagonismo. Além de ampliar o volume de recursos disponíveis, muitas dessas opções apresentam juros reais mais competitivos e maior flexibilidade. O avanço das CPRs, especialmente, revela uma busca por crédito fora dos canais tradicionais, embora exija atenção à solidez dos papéis emitidos.

Pressão por resultados e risco de inadimplência

Apesar da liquidez reforçada pelo Plano Safra 2025/26, o aumento das taxas e das exigências de garantia elevam o grau de dificuldade na tomada de crédito. Um fator adicional de preocupação é o avanço das Recuperações Judiciais (RJs), que impõe um novo patamar de risco para financiadores e operadores do agro. O aumento dos pedidos de RJ evidencia fragilidades na estrutura financeira de parte dos produtores e pressiona as instituições a aprimorar seus modelos de análise e monitoramento.

Nesse ambiente, cooperativas, bancos e fundos de investimento precisam conciliar a pressão por resultados com a sustentabilidade da carteira. A capacidade de pagamento e a gestão de risco passam a ocupar lugar central nas decisões de crédito. A figura do “bom pagador” rural deixa de estar vinculada apenas ao histórico de relacionamento e passa a ser identificada por indicadores concretos como fluxo de caixa, gestão técnica e desempenho eficiente na operação agrícola.

A profissionalização da análise de crédito e o uso intensivo de dados se tornam essenciais para evitar a exposição a clientes com alto risco de inadimplência. O desafio, portanto, é ampliar o acesso ao crédito sem comprometer a saúde financeira do sistema como um todo.

Sustentabilidade e modernização no campo

O Plano Safra 2025/26 também prioriza a sustentabilidade, alinhado às diretrizes de produção responsável. Linhas de crédito específicas com juros diferenciados são oferecidas para atividades como agricultura orgânica, agroecologia, sociobiodiversidade e sistemas de recuperação de áreas degradadas. A ampliação do programa RenovAgro Ambiental, que agora contempla ações de prevenção e combate a incêndios, reforça o compromisso com a gestão de riscos ambientais.

A modernização do setor é outro ponto de destaque. A unificação de programas visa simplificar o acesso ao crédito para tecnologia e inovação. Adicionalmente, a duplicação do limite de capacidade para projetos do PCA (Programa de Construção e Ampliação de Armazéns) para 12 mil toneladas, e o ajuste no limite de renda do Pronamp para R$ 3,5 milhões, buscam fortalecer a infraestrutura e o perfil dos médios produtores.

ZARC e o papel estratégico das tecnologias de monitoramento

É nesse ponto que a tecnologia assume papel estratégico. Soluções baseadas em imagens de satélite e algoritmos aplicados a geração de informações confiáveis como as desenvolvidas pela Serasa Experian viabilizam a confirmação do início do plantio, o acompanhamento do desenvolvimento da cultura e a verificação automatizada da conformidade com o ZARC. Essa capacidade permite detectar, com precisão, cultivos realizados fora da janela recomendada, gerando alertas automáticos para as instituições financeiras.

A automatização dos processos de monitoramento e fiscalização elimina a necessidade de vistorias presenciais, reduz custos operacionais e mitiga riscos de não conformidades socioambientais ou na destinação dos recursos. Além disso, a emissão de relatórios compatíveis com as diretrizes do Banco Central assegura total aderência regulatória. Com isso, as instituições financeiras ganham escala, previsibilidade na gestão de garantias e robustez técnica para sustentar decisões de crédito ambientalmente responsáveis.

Somam-se a essas soluções ferramentas complementares como a análise padronizada do Manual de Crédito Rural, estimativas de fluxo de caixa e valoração de terras, que ajudam a configurar perfis de risco mais precisos. O resultado é um processo mais ágil, seguro e transparente essencial tanto para os agentes tradicionais quanto para o mercado de capitais, que exige rastreabilidade e conformidade nas operações com o agro.

Desafios à frente

Embora o Plano Safra 2025/26 represente um avanço em volume de recursos e diretrizes sustentáveis, ele também impõe um novo grau de complexidade para todos os elos da cadeia de crédito rural. A elevação das taxas de juros, o aumento das exigências de garantias e o avanço das obrigações regulatórias como o cumprimento do ZARC e a rastreabilidade ambiental exigem mais do que liquidez: exigem inteligência, tecnologia e precisão na análise.

Nesse cenário, o desafio das instituições financeiras e fundos é equilibrar escala com segurança, ampliando a concessão de crédito sem comprometer a qualidade da carteira. Para isso, é essencial contar com soluções integradas que aliem monitoramento remoto, automação de análises, aderência regulatória e visão preditiva do risco.

A Serasa Experian apoia esse movimento com uma plataforma robusta de inteligência agro, oferecendo desde a validação técnica e climática do plantio até a estruturação de modelos de risco adaptados à realidade do campo. Nossas soluções permitem aos agentes do crédito rural atuarem com mais confiança, reduzindo a exposição a inadimplência, evitando não conformidades e acelerando a tomada de decisão.

O futuro do crédito agro passa por dados confiáveis, tecnologia aplicada e visão estratégica. E é exatamente nesse ponto de convergência que a Serasa Experian atua como parceira de quem produz, financia e transforma o agro brasileiro.

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Marcelo Pimenta é head de agronegócios da Serasa Experian.

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