Em um movimento que ilustra as ambições da MBRF nos mercados muçulmanos e pavimenta o caminho rumo à bolsa de Riad, a companhia de Marcos Molina acaba de anunciar a transferência dos ativos no Oriente Médio para a Sadia Halal, uma joint-venture que mantém com o PIF, fundo soberano da Arábia Saudita.
Pelos termos do acordo, o veículo de investimentos do reino fará um aporte de US$ 500 milhões (o equivalente a R$ 2,7 bilhões) para ficar com 30% da Sadia Halal, mantendo o controle da sociedade com a MBRF.
A previsão é que o aporte dos sauditas ocorra até o fim de 2026, sendo 50% em uma tranche primária e o restante em uma secundária (destinada ao caixa da MBRF). A intenção é que, um ano após a reorganização dos ativos, a Sadia Halal faça o IPO na bolsa da Arábia Saudita, acelerando o crescimento no mercado halal.
“A bolsa da Arábia Saudita é super pujante. Neste ano, foi a quarta maior em número de IPOs”, disse Marcos Molina, presidente do conselho de administração da MBRF, em entrevista a jornalistas.
O empresário ressaltou ainda que, na bolsa saudita, os ativos ligados ao mundo dos alimentos são negociados com valuation atrativos. As ações da Almarai, uma indústria saudita de carne de frango que é concorrente da Sadia, negocia entre 13 vezes e 15 vezes o Ebitda.
“Isso mostra a confiança do PIF em desenvolver a Sadia Halal, tanto na Arábia Saudita quanto em toda a região”, resumiu Molina. O custo de capital no mercado saudita é outro atrativo relevante.
O valuation da Sadia Halal
Na transação com o fundo soberano da Arábia Saudita, a Sadia Halal foi avaliada em pouco mais de US$ 2 bilhões (em torno de R$ 10 bilhões, quase 50% do valor de mercado da MBRF na bolsa brasileira).
A joint venture foi avaliada a um múltiplo de 9 vezes o Ebitda, que foi de US$ 230 milhões nos últimos doze meses encerrados em junho. Ao todo, os ativos que agora fazem parte da Sadia Halal registaram um faturamento de US$ 2,1 bilhões.
Para formar a Sadia Halal, a MBRF transferiu todas as plantas e estruturas de distribuição que possui na região do golfo, o que inclui duas fábricas na Arábia Saudita e uma nos Emirados Árabes Unidos.
A Sadia Halal também nasce com um contrato de fornecimento de dez anos para importar a carne de frango e bovina que for produzida pela MBRF nos frigoríficos brasileiros. Nesse contratos, a precificação estará baseada no custo de produção total, acrescido de uma margem de 5%.
Também fazem parte da joint venture uma fábrica de alimentos processados que está em construção em Jeddah, na Arábia Saudita, e a participação de 26% na avícola saudita Adohha. Esses ativos já faziam parte da sociedade entre MBRF e o fundo soberano. A avícola turca Banvit, que é controlada pelo grupo brasileiro e possui o governo do Catar como sócio minoritário, ficou de fora da Sadia Halal.
Com sede na Arábia Saudita, a sociedade entre MBRF e HPCD (veículo de investimentos do fundo soberano) será comandada por Fabio Mariano, vice-presidente da BRF no Oriente Médio e, a partir de agora, CEO da Sadia Halal.
Morando na capital saudita desde o meados do ano passado, Marquinhos Molina é o presidente do conselho da joint venture, além de atuar como CEO da companhia na Arábia Saudita.
“O futuro é promissor para essa companhia. É um mercado gigante. Até 2027, projeções indicam que o mercado de alimentos halal atinja mais de US$ 1,5 trilhão”, disse Mariano.
No mundo, a população muçulmana é de quase 2 bilhões de pessoas, e deve crescer a um ritmo duas vezes superior ao restante da população, segundo Mariano. “Como temos aporte de recursos, teremos condição de acelerar os planos de expansão”, ressaltou.
“A Arábia Saudita passa muitas mudanças rápidas, e queremos ajudar nas diretrizes do reino”, disse Marquinhos Molina, em alusão aos planos sauditas de tornar o país autossuficiente em alimentos.
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A intenção de explorar o mercado halal por meio de uma companhia listada não é uma ideia nova, mas veio com nova roupagem (sem incluir ativos no Brasil).
Em 2017, quando a BRF era uma companhia de capital pulverizado e tinha a Tarpon como acionista de referência, a dona da Sadia reuniu os ativos do mercado halal na One Foods. À época, os executivos imaginavam um IPO em Londres, de uma companhia avaliada em US$ 1,5 bilhão.
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O Citi assessorou a MBRF na transação com o fundo soberano da Arábia Saudita. A HPDC, veículo de investimento dos árabes, trabalhou com o Rothschild.