Saída Recorde de Dólares em Dezembro de 2024 Desafia o Banco Central

Dezembro de 2024 marcou um ponto de inflexão no cenário cambial brasileiro, com uma saída recorde de US$ 26,41 bilhões, segundo dados do Banco Central. Esse fluxo negativo sem precedentes para um mês de dezembro exigiu uma intervenção histórica da autoridade monetária, que vendeu US$ 21,57 bilhões no mercado à vista – a maior intervenção mensal desde a adoção do regime de câmbio flutuante em 1999.

O ano de 2024 como um todo já apresentava um fluxo cambial negativo de US$ 18,01 bilhões, resultado da diferença entre a entrada de US$ 69,2 bilhões pela conta comercial (exportações menos importações) e a saída de US$ 87,21 bilhões pela conta financeira (investimentos, remessas de lucros e dividendos, entre outros). No entanto, o mês de dezembro concentrou uma parcela significativa dessa saída, intensificando a pressão sobre o real.

Fluxo Cambial em 2024 (US$ bilhões)

AnoFluxo Cambial TotalConta ComercialConta Financeira
2024-18,01+69,2-87,21

Fluxo Cambial de Dezembro de 2024 (US$ bilhões)

Mês/AnoFluxo Cambial Total
Dez/2024-26,41

Intervenção do Banco Central:

Diante desse cenário, o Banco Central intensificou suas intervenções no mercado cambial. Ao longo de 2024, a autoridade monetária já havia realizado ações pontuais, como operações de swap cambial em abril (devido ao vencimento de NTN-As) e intervenções com swaps e leilões à vista entre agosto e setembro (motivadas pelo rebalanceamento do fundo de índice EWZ). Em novembro, leilões de linha foram utilizados para atender demandas típicas de final de ano.

No entanto, a magnitude da saída de dólares em dezembro exigiu uma resposta mais contundente: a venda de reservas internacionais por meio de leilões à vista, totalizando US$ 21,57 bilhões. Essa intervenção buscou conter a depreciação acentuada do real, que chegou a atingir R$ 6,30.

Intervenções do BC em 2024

MêsTipo de IntervençãoMotivo
AbrilContratos de Swap CambialVencimento de NTN-As
Ago/SetSwaps e Leilões à VistaRebalanceamento do fundo de índice EWZ
NovembroLeilões de Linha (venda com recompra)Suprir demandas pontuais de final de cada ano.
DezembroVenda de Reservas (Leilões à Vista)Amenizar impactos da saída financeira; Deterioração relevante e acelerada dos níveis de câmbio; Piora na percepção de risco fiscal; Aumento dos riscos globais; Saída de dólares sem proteção (“não hedgeados”).

Fatores que Contribuíram para a Saída Recorde:

Diversos fatores convergiram para a saída recorde de dólares em dezembro de 2024:

  • Aumento nos pagamentos de dividendos: Empresas com bons resultados distribuíram mais dividendos, gerando remessas para o exterior.
  • Investimentos de brasileiros no exterior: A busca por diversificação e melhores retornos impulsionou os investimentos internacionais por parte de brasileiros, facilitados pelo acesso a plataformas digitais.
  • Saídas não “hedgeadas”: Parte das saídas de dólares não possuía proteção cambial (hedge), intensificando a pressão sobre o real.
  • Aumento do prêmio de risco: A incerteza fiscal e o cenário global aumentaram o prêmio de risco do Brasil, tornando o país menos atraente para investidores estrangeiros.
  • Possível reversão de fluxo de investidores estrangeiros: O estresse nos mercados de juros e títulos públicos domésticos pode ter levado investidores estrangeiros a reduzir suas posições no Brasil.

Fatores que Contribuíram para a Saída de Dólares em Dezembro de 2024

FatorDescrição
Pagamento maior de dividendos pelas empresasEmpresas tiveram resultados superiores, o que levou a um pagamento maior de dividendos.
Investimentos de brasileiros no exteriorObservou-se uma saída maior de capital vindo de pessoa física por meio de plataformas digitais com operações menores.
Saídas não “hedgeadas”Uma parte das saídas não estava “hedgeada” (sem a compra de dólar futuro), o que foi muito importante no movimento de depreciação do real.
Aumento no prêmio de riscoHouve um aumento no prêmio de risco, o que contribuiu para a desvalorização do real.
Possível reversão no movimento de entrada do investidor estrangeiroDos meses de julho a novembro, o investidor de fora aumentou sua alocação em portfólio na parte da dívida doméstica. O artigo sugere a possibilidade de ter ocorrido um movimento de “stop loss” e de redução dessa alocação em dezembro, mas isso depende de dados posteriores. O estresse nos mercados domésticos de juros e de títulos públicos também provocou diversos “stops” em posições que geralmente são carregadas por investidores estrangeiros.

A intervenção massiva do BC demonstra a preocupação da autoridade monetária em conter a volatilidade cambial e seus potenciais impactos na inflação. A depreciação do real torna as importações mais caras, pressionando os preços internos. Além disso, a saída de dólares pode afetar as reservas internacionais e a confiança dos investidores no país.

É importante ressaltar que a atuação do BC segue uma postura historicamente reativa, buscando mitigar os efeitos de movimentos de mercado. A discussão sobre uma abordagem mais estruturada para a política cambial, como defendido por Pramol Dhawan, da Pimco, ganha relevância nesse contexto.

A saída recorde de dólares em dezembro de 2024 representou um desafio para o Banco Central, que respondeu com uma intervenção histórica. Os múltiplos fatores que contribuíram para esse cenário evidenciam a complexidade do mercado cambial e a necessidade de monitoramento constante. As implicações desse episódio para a economia brasileira, especialmente no que diz respeito à inflação e à confiança dos investidores, merecem acompanhamento atento nos próximos meses.

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